Instalação do sistema de dominação colonial e a resistência africana

Depois da Conferência de Berlim, as potências europeias procuraram assegurar a dominação política sobre a África, o que provocou uma confrontação armada com aqueles reinos que ofereceram resistência.

Nas lutas que se travaram, os europeus gozavam de grandes vantagens em relação aos africanos. Possuíam uma tecnologia avançada e também beneficiaram-se da existência de conflitos entre os chefes africanos, em virtude da crescente ambição por bens de prestígio por parte destes.

Como consequência da diferença de posições entre chefes africanos, surgiram divisões no seio da aristocracia dominante. Alguns chefes de reinos militares fracos, para não perderem seus privilégios, se aliaram aos europeus e funcionaram como intermediários do comércio europeu, enquanto que outros chefes de reinos militares, e economicamente fortes, decidiram lutar para defender seus territórios e seus direitos.

As rivalidades históricas entre os reinos expansionistas, bem como conflitos de interesses que opunham diferentes grupos culturais e dinastias dentro desse mesmo reino, facilitaram a dominação do continente africano pois, em termos de cultura, não existia unidade territorial forte e cada dirigente, cada sociedade, reagia à crescente usurpações dos europeus de formas diferentes em função das suas realidades diferentes.

Nas sociedades africanas, cada dirigente, cada tribo e mesmo cada indivíduo, reagia em função do contexto de relações e realidades inter-regionais que existiam antes da chegada dos europeus. Os europeus exploraram as rivalidades entre os dirigentes, entre tribos e entre indivíduos e estudaram os  sistemas políticos de África daquela época, o que lhes permitiu prever as formas de reacção e de resistência africana. Para depois tirarem proveito dessas reacções e dominarem África.

Os chefes africanos não conheciam as intenções dos europeus. E, não obstante, para terem segurança e garantir sua sobrevivência, alguns preferiram aceitar a tutela dos estrangeiros e estabeleceram alianças com os europeus. Estes inventaram pretextos para interferir nos negócios internos africanos oferecendo “libertação”  ou  “protecção”  aos nativos insatisfeitos. Deste modo, aplicaram sistematicamente a táctica destrutiva de dividir para melhor dominar explorando as rivalidades, medos e fraquezas dos africanos em seu favor.

A cristianização africana levada a cabo pelos europeus foi uma estratégia que logrou grandes resultados. Por força da prática dos ensinamentos difundidos pelos missionários, criou-se uma classe de africanos com hábitos, modos e costumes europeus que acreditavam nos bons propósitos e no não racismo de seus dominadores bem como na inferioridade natural do povo africano.
Quando os chefes africanos se aperceberam de que os europeus tentavam conquistar e governar seus territórios, organizaram-se e resistiram de diferentes formas: alguns resistiram de forma pacífica e outros resistiram de forma violenta. No entanto, em virtude da superioridade tecnológica dos europeus em relação aos africanos, verificou-se fracasso das resistências e uma dominação sobre os africanos. Introduziram-se e desenvolveram-se sistemas políticos, económicos e socio-culturais estranhos à África, as sociedades tradicionais tinham sido vencidas, humilhadas e alguns reinos africanos tinham sido destruídos e outros eram dominados em forma de protecção.

Aqui o  autor dá-nos uma ideia de como os africanos desde logo reagiram à dominação colonial, optando por resistir a ela. Você pode ver também quanto ódio existia à ocupação, pois a citação afirma que muitos africanos preferiram morrer heroicamente a terem que perder a sua liberdade.

Mas, com certeza, você está interessado em compreender como foram feitas essas lutas de resistência africana à ocupação colonial.

Caro estudante,  aqui é importante  recordar que, entre os reinos africanos, existiam divergências causadas pelo autoritarismo e egoísmo político dos chefes. Estes, criavam conflitos de interesse que opunham diferentes grupos culturais e dinastias dentro desse mesmo reino. De salientar que as lutas entre os reinos africanos foram motivadas pelo desejo de um grupo de dirigentes ampliarem seus domínios bem como manter o controlo do comércio que lhes trazia bens de prestígio garantindo deste modo seu poder.

Relativamente à garantia do poder político, podemos dizer que os chefes africanos resistiram para manter a sua soberania, poder e crédito de que gozavam entre as populações locais. No aspecto económico, os africanos desejavam manter sua economia que se traduzia na agricultura, caça, mineração, comércio interno e externo e criação de gado.

No que diz respeito à garantia do poder sociocultural, podemos dizer que os africanos pretendiam fazer prevalecer a sua cultura, ou seja, organização na sociedade, aspectos mágicos-religiosos e tradições.

Seria demasiadamente vago falar apenas das lutas entre os reinos africanos e das causas de luta contra a penetração estrangeira sem caracterizar as resistências. Ora vejamos.

Características das resistências em África

Em África, as resistências manifestaram-se de maneiras diferentes. Em algumas regiões foram armadas e noutras foram pacíficas, tudo dependia da capacidade político-militar de cada reino.

As resistências armadas, por exemplo, verificaram-se nos reinos Zulus, Ndebeles e Bembas e as pacíficas ocorreram nos reinos  Sothos, Tswanas e Swazis.

As resistências armadas verificaram-se nos reinos com uma capacidade político-militar forte, que dominavam as terras mais férteis e ricas em recursos minerais. Daí que estes reinos se opunham violentamente aos interesses estrangeiros. Uma das formas de luta que utilizaram era de fechar as rotas de caravanas2 que passavam pelo seu território. Eram tão orgulhosos que até alguns chefes preferiram matar-se para não ficarem cativos3. Um exemplo concreto de africanos que resistiram com êxitos à penetração estrangeira é a Etiópia na África Oriental. Estes derrotaram decisivamente os italianos.

As resistências pacíficas caracterizaram-se pela negociação de tratados de protecção entre reinos africanos e potências europeias. Por estes tratados, os chefes africanos reduziam os efeitos da dominação estrangeira, garantindo seus direitos políticos e seu prestígio junto à população do reino.

Como consequência da desigualdade tecnológica e perda do poder dos reinos africanos em virtude de divergências internas, verificaram-se derrotas e humilhação. Os reinos político e militarmente fortes, exceptuando a Etiópia. Ficaram  destruídos e os reinos políticos militarmente fracos foram preservados em forma de protectorado, que aceitaram o tratado de protecção.

Repare que alguns reinos para garantirem sua sobrevivência e segurança aceitaram a protecção de algumas potências coloniais e, desse modo, formou-se uma classe que acreditava no não racismo de seus protectores. Este grupo era adepto das reformas mais progressistas e da assimilação cultural; compartilhava a ideia de que os africanos eram pobres selvagens mergulhados nas trevas da ignorância; achava que era necessário promover o progresso da África tradicional pela cristianização e educação.

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