O envolvimento dos africanos na I Guerra Mundial

Foi do resultado das rivalidades entre as potências europeias pela partilha do mundo que, em 1914, começou a Primeira Guerra Mundial.

A Primeira Guerra Mundial, embora tenha sido essencialmente europeia, acabou afectando o nosso continente, já que, como sabe, a África já estava sob domínio europeu, por isso, vamos analisar os efeitos dela em África.

Como dissemos, a guerra relacionava-se com a concorrência das potências europeias pelo controlo de territórios. A Alemanha, por exemplo, que se industrializou tardiamente, considerava-se prejudicada na parte que lhe cabia nas zonas de influência e de colónias e exigia uma redistribuição destas. Os seus interesses chocavam com os interesses das velhas potências, como a Inglaterra e a França e punham em causa os domínios doutras, como Portugal e Bélgica, em África. Esta situação provocou tensão entre os países europeus, tensão que levou à eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.

A Primeira Guerra Mundial iniciou-se na Europa, mas, pouco tempo depois, atingiu a África onde os países beligerantes disputavam colónias.

A Alemanha nos finais do século XIX atingiu um desenvolvimento industrial muito alto que ameaçava os interesses hegemónicos das velhas potências, em particular, da Inglaterra. Foi só nessa altura que a Alemanha iniciou a sua corrida colonial, numa altura em que as outras potências tinham praticamente dividido o mundo entre si. Ela vai exigir a redistribuição do mundo. Queria, por exemplo, constituir um vasto império em África, unindo as colónias de Camarões, do leste e sudoeste africano, anexando belgas e francesas do Congo e as colónias portuguesas de Angola e Moçambique. 

A vinculação da África aos interesses imperialistas das potências europeias determinou o seu envolvimento na Primeira Guerra Mundial, facto que possibilitou um despertar da consciência histórica dos africanos. A Primeira Guerra Mundial redesenhou o mapa da África, através da partilha definitiva do continente pelas potências vencedoras da guerra.

Nós também, em Moçambique, fomos afectados por esta guerra. A história regista que os alemães, que controlavam Tanganyka (actual Tanzania), atravessaram o rio Rovuma penetrando o

actual Território de Moçambique e provocando conflitos militares com o exército português. Aliás este facto pressionou o governo colonial a intensificar a ocupação colonial no norte de Moçambique.
Interessa-nos agora analisar os efeitos desta guerra sobre África. Michael Growder escreveu que “(…) no total mais de 2,5 milhões de africanos, cifra que corresponde a bem mais de 1% da população do continente, participaram de uma forma ou de outra do esforço de guerra.”

Com efeito, todas as regiões de África sentiram directa ou indirectamente os efeitos da guerra. Os africanos não só eram recrutados para combater em África, mas em muitos casos também para auxiliarem os exércitos europeus fora da África. Assim, soldados africanos e europeus, combateram lado a lado como camaradas. Soldados negros e brancos descobriram que eram iguais e que todos tinham sentimentos. Para B.A. Ogot,  “o soldado africano não tardou a descobrir os pontos fortes e a fraqueza do europeu, até então considerado pela maioria dos africanos como um indivíduo superior. De facto, sargentos africanos foram encarregados de ensinar a voluntários europeus técnicas de guerra moderna. Tornava-se evidente que os europeus não sabiam de tudo. De volta à sua terra, soldados e carregadores difundiram essa nova imagem do homem branco; isso explica, em grande parte, a confiança e a segurança revelados (…)”

Você facilmente pode concluir que a participação dos africanos na Primeira Guerra Mundial teve como uma das consequências o despertar da sua consciência como povos colonizados, o que se reflectiu em reivindicações pelos seus direitos. Você poderia perguntar:  como a guerra leva ao despertar da consciência africana?  A resposta seria fácil:  Na sua participação nos combates, lado a lado, com os europeus, o homem africano conclui que o africano e o branco têm os mesmos poderes como homens; têm os mesmos sentimentos face à dominação. Ora, isto inspira nos africanos confiança e segurança, pois eles ganham uma nova ideia sobre o homem branco.

Mas, como todas as guerras, a Primeira Guerra Mundial teve consequências económicas pesadas sobre o nosso continente: Michael Crowder escreveria mais tarde:  “A declaração de guerra prejudicou consideravelmente a vida económica da África. De modo geral, provocou a queda dos preços dos produtos básicos e a elevação dos preços dos artigos importados, dada a redução da oferta (…)”.  Os produtos básicos, constituídos pelas matérias-primas e produtos agrícolas baixaram de preço, devido ao excesso de produtos em oferta no mercado. Estes produtos, como o amigo cursista sabe, são os que a África exporta. Com a queda dos seus preços, prejudicaram o produtor africano. Enquanto os nossos produtos baixavam, os produtos industrializados, importados de fora do continente, subiram de preço. Está clara a situação desvantajosa dos africanos: vender mais barato e comprar mais caro!

A nível político, uma das consequências da Primeira Guerra Mundial a assinalar é a alteração do mapa da África. Ah!  Isto é interessante, não amigo cursista?  Mas é verdade. É que no fim da guerra a Alemanha tinha sido derrotada e as suas pretensões foram goradas8 . Como vimos no mapa, atrás, a Alemanha possuía algumas colónias em África, como a Tanganyka, Namíbia e partes dos Camarões, Togo, Ruanda e Burundi. No fim da guerra os países vencedores decidiram dividir entre si as antigas colónias alemãs. Assim a Alemanha, derrotada, saiu do grupo das potências coloniais, sendo substituída pela França e pelo Reino Unido, em Camarões e Togo; pela União Sul-Africana (África do Sul), no sudoeste africano (Namíbia) e pela Bélgica e Reino Unido na antiga África oriental alemã (Tanganyka, Ruanda e Burundi). A África ficou dividida, no fim da Primeira Guerra Mundial, no que consideramos divisão definitiva da África pelas potências coloniais.

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